quarta-feira, novembro 22, 2006

Eu, que sou mais banal e vulgar que a mais banal das mulheres... Eu, que sou tão comum que nem preciso olhar-me ao espelho... igual que sou a tantas outras mulheres, com que me cruzo e das quais não me distingo... Eu odeio a banalidade! Odeia a rotina!
Odeio as frases feitas de quem pergunta:
- Olá como estás? E nem quer saber! Odeio os bons dias, as boas tardes, as boas noites, ditos sem pensar, sem sentimento, sem vontade, apenas porque fica bem...
E as gajas? As santinhas, as pudicas, as que têm sempre na ponta da língua um: - Ai credo, tens um decote muito provocante, se cortasses o cabelo ficava-te melhor, ha e...sem contar que eu nao tirei a carta como normalmente as pessoas fazem, nao! Eu compreei-a! Porque nao sei conduzir! Um julgamento, uma condenação! As que são contra o aborto, contra a pílula, contra a educação sexual, contra tudo que seja sexo!
Escrito, pintado feito ou falado.
"Ai, eu nao gosto de sexo! Acho nojento, só o faço pelo meu namorado" Ai...que odio!!
E quando têm “maus pensamentos” correm às sacristias porque agora sao muito crentes de Deus:
- Sr. Padre sonhei que estava a fazer sexo oral, confessam... Como se sexo oral fosse um pecado capital, esquecendo que só o peixe morre pela boca! E lavam as mãos nas pias e cumprem todas as penitências, mas falam do sexo da vizinha que é uma descarada...
E são donas de verdades absolutas.
E nunca têm dúvidas.
E só dizem…
B a n a l i d a d e s!
Ai...como ódeio esta gente hipocrita e mesquilha que me rodeia cada minuto do meu santo dia!
Hoje, estou revoltada!
Com tudo e todos!
Só me apetece (e desculpem-me o termo) mandar tudo e todos po caralho!!
E lá esta outra vez o telemovel a tocar, a atormentar o meu mais precioso momento de relax, em que meto uma musica suave para relaxar e escrevo tudo o que dá na gana! Umas vezes escrevo desafios coerentes, com pés e cabeça...outras como esta...escrevo sem pensar, sem nexo, sem verificar se está tudo certinho, sem erros ortograficos! Consigo ate adivinhar quem é pelo som da musica que toca... era aquela que ele detestava, pu-la para ver se o consigo ódiar ainda mais! Atendo? Nao atendo? é sempre esta merda de duvida! Atendo e mando-o po caralho!!

terça-feira, novembro 21, 2006

Fez-me chorar. Molhei a almofada... Porque choras tu?

"E escrevi o teu nome e o teu número de telefone numa página da agenda do mês de Fevereiro. E, ao escrevê-lo, sabia que era uma despedida, mas todo o mês de Março nos arrastámos na despedida, como caranguejos na maré vazia. Sem ti, lancei outras raízes, construí pátios e terraços, fontes cujo som deveria apagar todos os silêncios, plantei um pomar com cheiro a damasco, mandei fazer um banco de cal à roda de uma árvore para olhar as estrelas do céu, um caminho no meio do olival por onde o luar pousaria à noite, abóbadas de tijolo imaginadas pelo mais sábio dos arquitectos e até teias de aranha suspensas no tecto, como se vigiassem a passagem do tempo. Nada disso tu viste, nada te contei, nada é teu. Sozinhos, eu e a aranha pendurada na sua teia, contemplámo-nos longamente, como quem se descobre, como quem se recolhe, como quem se esconde. Foi assim que vi desfilar os anos, as paredes escurecendo, um pó de tijolo pousando entre as páginas dos mesmos livros que fui lendo, repetidamente. Heathcliff e Catarina Linton destroçados outra vez pela minúcia do tempo.Como explicar-te como tudo isto se te tornou alheio, como tudo te pareceria agora estranho, como nada do que foi teu vigia o teu hipotético regresso? Ulisses não voltará a Ítaca e Penélope alguma desfará de noite a teia que te teceste.E arranquei a página da agenda com o teu nome e o teu número de telefone. Veio a seguir Abril e depois o Verão. Vi nascer a flor da tremocilha e das buganvílias adormecidas, vi rebentar o azul dos jacarandás em Junho, vi noites de lua cheia em que todos os animais nocturnos se chamavam rãs, corujas e grilos, e um espesso calor sobre a devassidão da cidade. E já nada disto, juro, era teu.E foi assim que descobri que todas as coisas continuam para sempre, como um rio que corre ininterruptamente para o mar, por mais que façam para o deter.Sabes, quem não acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes. Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na integridade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.E a tua voz ouço-a agora, vinda de longe, como o som do mar imaginado dentro de um búzio. Vejo-te através da espuma quebrada na areia das praias, num mar de Setembro, com cheiro a algas e a iodo. E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas ilusões de que tudo podia ser meu pra sempre."

"Não te deixarei morrer, David Crockett" de Miguel Sousa Tavares

domingo, novembro 05, 2006

Todos os dias entro no mesmo dia. Igual ao de ontem, ao de anteontem, ao que amanha ha-de vir. Sei exactamente o que farei amanha as quatro da tarde, assim como sei o que farei as duas, ou as dez. A vida... agenda programada, calendario viciado, rotina, destino, fado. Dá-se a vida o nome que se quiser!
Eu, quero mais que isto. Quero tudo!!
Mesmo nao sabendo o que tudo é. Quero um destino grande num tempo pequeno, quero partir o ponteiro que me marca a hora e sentir!
Desregradamente
Intemporalmente
Excessivamente
Toda e qualquer emocao! Sentir! Sem condicionantes, moralismos, ditames ditados, preconceitos, obstaculos, conceitos assimilados, sentir!! Baixar as defesas, cortar as mordaças, abrir os bracos, rasgar carapaças e sentir! Partir o ponteiro que me marca o tempo, que o pontua, regula e compassa:
Sina... Calendario... Destino...Farsa...
Farsa... Calendario... Destino... Vida...
E sentir! Mesmo que parta a cara, mesmo que fique de rastos, mesmo que nunca mais reuna os pedaços, quero rasgar o peito e abrir os bracos... E sentir o pulsar, a explosao e viver pura, limpida, unica a emocao e da-la dizendo:
Esta, sou eu! Este e o meu tempo, o meu calendario, o meu objectivo e itinerario, recusar a vida, dia programado, viver a emocao sem tempo marcado, e sentir a paixao que me corre nas veias...
Sem limites
Sem regras
...quando?! Eu quero!